
Com as boas notícias, abriu também a temporadas das melhores horas: as das sardinhas, das noites quentes, das festas, dos fins de tarde intermináveis, do futebol, dos bailaricos, de Lisboa-inspirada.
Para celebrar todas estas coisas, sentei o rabo no carro de uns amigos e alinhei com eles costa abaixo, num programa de fim-de-semana prolongado. Sempre gostei de rituais, pequenos festejos, simbolismos menores e maiores que marquem passagens de uns estados a outros. Fiz a oral final do estágio da ordem dos advogados vestida de preto, anunciei no trabalho que me ia embora com a mesma camisa que usei no primeiro dia de escritório, e desta vez, para celebrar a mão cheia de boas noticias que saíram dos bolsos este mês, levei as injecções a passear à praia – com direito a acampar, entre placas de gelo e uma logística bem montada. A passagem do ritual era a de um ano negro e triste para um outro que aí vem, anunciado pelas boas notícias de Maio, e que se espera extraordinário. O simbolismo vinha agarrado ao programa: pés na areia, tendas às costas, noites ao relento, caracóis ao fim da tarde com imperiais a acompanhar o futebol e os bailinhos, uma liberdade gostosíssima que as boas notícias permitirão, enfim, viver, os pés descalços com o sol nas orelhas, e a promessa de muitas viagens e projectos às portas do ano; em extraordinária companhia, as conversas a condizer, e a sensação de paz, enfim, a aquecer o peito.
Assim foi.
Discutimos as ursas, contámos as cadentes, brindámos o “esteba” gabado durante toda a viagem, em cada café era um “faxavor ponha-me lá isso no frigorífico dois segundinhos”, “claro que ponho, menina”, picava-me no carro, os meus amigos tiravam gelo dos bolsos, que me entregavam, atentíssimos, e assim se fez a coisa. Felicíssima.
Fechámos a rota numa tasca caída numa estrada nacional de pouco movimento, fresquíssimas minis tilintaram ao fim do dia e ao fim daqueles dias, e tenho a sensação que cantámos marchinhas e “laurindinhas” a viagem toda – mas eu estava em êxtase, por isso pode ser da minha imaginação.
Voltei a casa, espalhei areia por todo o chão (que agora terei de aspirar, porque ainda a sinto colar-se aos pés) e fiz duas notas mentais: (i) é possível fazer vida cigana com as injecções atrás (e os senhores dos cafés são sempre uma simpatia), e (ii) tenho MESMO de fazer isto mais vezes.
4 comentários:
Calili posso ser cigano contigo?
GRANDA PINTA de fim de semana!
Esta semana não, mas para a semana não me escapas. Ou esta que seja á nossa boa maneira, a fugir! Com dois ou três cigarros (e uma mini, claro!) num ambiente de compressão que nos permite ir estando a par destas vidas ocupadas mas... partilhadas!
beijo grande
Querida Catarina, se soubesses a felicidade que sinto a ler o que escreves e como gostava de ser um pouco mais corajosa como tu! Dás me esperança tu! Não te conheço mas adoro-te por isso :) Beijinho grande
Também queremos partilhar um pouco desse teu descanso, vais ter de te desdobrar em muitas antes da re-emigração!
Beijinhos,
Alviristambulxinha
Minha querida Z, a necessidade é a mãe disso a que chamas coragem - o princípio do "ou vai ou racha"! Vamos, então, que rachar não dá=)
Cigano do meu coração, sempre atento, hein? Vemo-nos logo, e logo te aperto, com mais uns cigarros e copos partilhados!
Alviristambul (que bom, haha), saudades e aqui estou, para vós=)
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