Esta é uma história extraordinária sobre uma médica nos EUA, chamada Terry Wahls, que, nas suas próprias palavras, além disso também tem esclerose múltipla. Além disso, também, investigou a sua própria doença, criou um regime de alimentação baseado nos nutrientes específicos que o cérebro com EM precisa, e largou a cadeira de rodas no espaço de um ano. Sem prometer milagres, nem falsas esperanças, cada caso, de facto, é um caso - mas não valerá a pena prestar um bocadinho de atenção? Que sacrifício, comer melhor? Eu estou a pensar seriamente nisto (a par das injecções, claro) - nada a perder.
«Escolhendo um ponto de partida para contar a história da minha doença e recuperação, parecia apenas natural voltar ao tempo em que me senti mais forte e mais viva no meu corpo do que nunca– quando competia como cinturão negro de Tae Kwon Do, quando andava na faculdade. Sempre fui alta e forte, mas este desporto deu-me a graça e agilidade que eu nunca tinha tido. Eu partia placas com socos e pontapés laterais. A minha assinatura era o pontapé tornado. Assim que o árbitro dava início à luta, eu saltava no ar em espiral, girando, e com as minhas pernas longas muitas vezes apanhava o meu adversário desprevenido e levava-o ao tapete. Em 1978, ganhei uma medalha de bronze na Divisão das Mulheres Welterweight. Meio ballet, meio combate, era um desporto brutal, mas eu adorava a onda de adrenalina que me dava. Competi a nível nacional, e em 1978 ganhei uma medalha de bronze na luta livre nos ensaios para os Jogos Pan-americanos em Washington.
No outono seguinte, comecei a faculdade de medicina. Embora continuasse a treinar e ensinar Tae Kwon Do, deixei de competir, porque não me queria arriscar a levar socos ou pontapés na cabeça. Troquei por desportos menos exigentes, como ciclismo e escalada.
A vida estava correr-me tal como pretendia. Abri uma clínica privada em medicina interna em 1987, em 1991 tive um filho, e três anos mais tarde, uma filha. Nessa altura, corria maratonas, escalava montanhas no Nepal e corria na maratona Birkebeiner de 55 km de ski (no norte de Wisconsin) várias vezes, incluindo uma vez durante a gravidez do meu filho. Eu queria ser tão activa aos quarenta anos como quando fosse uma avó de cabelos brancos.
No inverno de 2000, durante uma das nossas caminhadas matinais de sábado, a minha parceira Jackie achou que o meu passo parecia diferente entre o meu pé direito e o esquerdo. Ela disse que eu deveria ir ao médico. Eu não liguei.. Poucos meses depois, ela achou novamente o meu andar, e voltou a dizer que eu deveria ir a um médico. Eu ignorei. “Isto já melhora”, pensei.
A vez seguinte que a Jackie me desafiou para uma caminhada, tinha um plano. Enquanto as crianças brincavam em casa de uma amiga, ela sugeriu caminharmos até à pastelaria para comermos um gelado. Foi um caminho de três milhas, ida e volta, e no regresso, eu já vinha a arrastar o meu pé esquerdo, como um saco de areia. Não sentia os dedos dos pés, estava exausta, enjoada e com medo. E marquei uma consulta com o meu médico.
É normal, na maioria das doenças neurológicas, que os sintomas, difíceis de perceber, muitas vezes se vão acumulando lentamente, pouco a pouco, ao longo de décadas, e a doença passa despercebida por muito tempo. O meu caso não foi excepção. Eu não tinha reagido aos pedidos iniciais da Jackie para ver um médico porque as mudanças vieram devagar e eu tinha-me adaptado a elas. No ano anterior ao meu diagnóstico, reparei que a minha força estava em declínio. Fiquei chateada comigo mesma, mas pensava que era do envelhecimento e prometi a mim mesma esforçar-me mais.
No entanto, a realidade é que a esclerose múltipla tinha corroído a mielina do meu cérebro e medula espinhal desde a faculdade. No momento em que fui diagnosticada, a doença já tinha atacado boa parte do meu sistema nervoso central. Os meus surtos intermitentes de dor facial, que me vinham incomodando desde a faculdade, foram ficando cada vez mais intensos. Correr era difícil, e eu já tinha desistido de fazer ski. O meu declínio progrediu rapidamente. Dois anos depois do meu diagnóstico, já não podia jogar futebol com os meus filhos no quintal. No outono de 2003, andar de sala em sala durante as rondas do hospital cansava-me muito e, no verão de 2004, as minhas costas e os músculos do estômago tinham enfraquecido tanto que eu precisava de uma cadeira de rodas reclinada. Em 2007, passei a maior parte do tempo totalmente deitada numa cadeira de gravidade zero. Tinha apenas 52 anos.
A memória de mim mesma como corredora, esquiadora, e campeã de Tae Kwon Do foram desaparecendo ao longo dos anos, à medida que o meu corpo perdia capacidades. Embora eu conseguisse ser forte em relação à perda da minha vida activa, não conseguia em relação à minha capacidade de ser mãe. Quando finalmente fui parar a uma cadeira de rodas, em 2004, o meu filho tinha dez anos, e a minha filha de sete. Como poderia eu ensinar aos meus filhos as habilidades e a resistência que necessitavam para superar as dificuldades da vida, numa cadeira de rodas?
Deitada na minha cadeira de gravidade zero, na mesa da sala de jantar, observando como eles preparavam o jantar, limpavam a mesa e se sentavam a fazer os trabalhos de casa, sentia-me distante deles. Já que eu não poderia acompanhá-los lado a lado, queria contar-lhes tudo sobre a minha vida antes da EM e ensinar-lhes algumas das lições de vida que eu tinha aprendido. Comecei a escrever as minhas histórias, para eles e para mim, pensando que as histórias eram tudo que eu tinha deixado enquanto lições de vida e experiências.
A memória de mim mesma como corredora, esquiadora, e campeã de Tae Kwon Do foram desaparecendo ao longo dos anos, à medida que o meu corpo perdia capacidades. Embora eu conseguisse ser forte em relação à perda da minha vida activa, não conseguia em relação à minha capacidade de ser mãe. Quando finalmente fui parar a uma cadeira de rodas, em 2004, o meu filho tinha dez anos, e a minha filha de sete. Como poderia eu ensinar aos meus filhos as habilidades e a resistência que necessitavam para superar as dificuldades da vida, numa cadeira de rodas?
Deitada na minha cadeira de gravidade zero, na mesa da sala de jantar, observando como eles preparavam o jantar, limpavam a mesa e se sentavam a fazer os trabalhos de casa, sentia-me distante deles. Já que eu não poderia acompanhá-los lado a lado, queria contar-lhes tudo sobre a minha vida antes da EM e ensinar-lhes algumas das lições de vida que eu tinha aprendido. Comecei a escrever as minhas histórias, para eles e para mim, pensando que as histórias eram tudo que eu tinha deixado enquanto lições de vida e experiências.
Em três anos, a minha doença progrediu de reincidente-remitente para secundária progressiva. Nessa fase, a doença progride lentamente, apesar da terapêutica cada vez mais agressiva. (...) Fiquei dependente de cadeira de rodas. Parecia que não havia boas opções disponíveis. (...)
Quando fui diagnosticada, comecei a ler literatura médica todas as noites. Fiz o que muitos médicos fazem quando são diagnosticados - comecei a ler artigos médicos para mim. Mas quando li sobre a natureza progressiva da doença, e que 50 por cento das pessoas diagnosticadas têm de parar de trabalhar em dez anos, por causa dos níveis de incapacidade ou fadiga, parei de ler. Mais tarde, na cadeira de rodas, já não me assustavam aqueles artigos. Eu sabia o quão mau podia ser. (...)
Noite após noite, eu li. (...) Comecei à procura de artigos sobre o impacto de vitaminas e suplementos em células mitocôndrias e cérebro. Esta pesquisa levou-me numa outra viagem para as ciências básicas, onde os efeitos de um ou dois nutrientes estavam a ser testados nos modelos animais de doenças cerebrais diferentes. Voltado para a investigação sobre as principais doenças neurológicas, Parkinson, Huntington, e Lou-Gehrig's, descobri que algumas vitaminas e aminoácidos específicos retardavam a progressão destas doenças nos modelos animais. Fui até a loja de alimentos saudáveis, comprei alguns suplementos, e comecei a minha primeira rodada de auto-experimentação.»
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http://www.thewahlsfoundation.com/
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