E ele escusava de me explicar o que eu já sabia: que os processos de recrutamento pareciam começar a espreitar, que no verão argentino (dezembro, janeiro e fevereiro) não ia acontecer nada, que começar em fevereiro era muito tarde e que a emigração, dado assente, deveria ser encarada.
Ai ai ai ai ai, pensei eu em calças rotas e t-shirt de publicidade XL recortada em coisa maneirinha, o turbante na cabeça e uma pinta muito pouco civilizada para habitar cidade em modo sem-mochila!
A coisa já fervilhava e nos esperava e nos chamava. A coisa estava aí. E eu bem sei que os nervos são coisa pouco amiga dos formigueiros (não cansar, não stressar, não emocionar, não excitar, não agitar, não ansiar) - mas os primeiros estavam ao rubro, e os segundos quietos.
Sem alternativas de senso comum, antecipámos a coisa: comprámos um voo de última hora, arrumámos a mochilas, contámos os pares de meias (eu tenho 3, e tu?), comprámos uns jeans de fraca qualidade e bom preço para compor a figura, e fomos. A emigrar oficialmente, a BUENOS AIRES!
Sem alternativas de senso comum, antecipámos a coisa: comprámos um voo de última hora, arrumámos a mochilas, contámos os pares de meias (eu tenho 3, e tu?), comprámos uns jeans de fraca qualidade e bom preço para compor a figura, e fomos. A emigrar oficialmente, a BUENOS AIRES!
Caros: cheguei a Buenos Aires no dia 11 de Outubro - e eu não dizia que gosto de simbolismos?, de datas, de cores vestidas, de gestos e rituais? Nem de propósito: aterrei na minha cidade querida, retornada e pronta para o duro processo de parto de todo-emigrante, no exacto dia em que cumpri dois anos de diagnóstico.
Já?, parece que foi ontem!
Só?, pareceu uma eternidade!
Percebi a coincidência na véspera do embora, disse-o ao Rodolfo, abracei o Juan sem vontade de partir, nervosa e séria, e entrei no avião.
Depois de uma viagem inquieta e de uns 'pssst' grunhidos ao velhinho que roncava como um javali-sem-mãe em cima de mim, aterrámos na Argentina às seis de uma manhã amanhecida com sol e mediaslunas, e uma grande sensação de renascimento e dia novo. E se tenho um surto em plena Argentina? E se acontece alguma coisa? E se a "eleita" decide agravar-se do outro lado do mundo?
Mas ai!, não se imagina a luz da minha cara! Nem a morada errada que levava da minha amiga Paula (e a meia hora que demorei a aperceber-me disso), nem o facto de, entrenervos, lhe ter dito que chegava na sexta e não na quinta (e a meia hora que demorei a aperceber-me disso), nem nada, nada; o estado ansiolítico rapidamente se tornou em alma, vontade, sorriso pateta mirando la ciudad acabada de acordar.
Não emocionar, não excitar, não agitar, não ansiar?
Não, continuo a não saber como se faz isso.
AQUI ESTOU. Para o que vier, retorno a esta maravilhosa cidade, para estudar direitos humanos; para a viver e a gozar com mais tempo, mais calma, mais ânimo. Mais saudades de Casa, o sentido da língua-pátria e saudade-terra mais crescido, e - a grande novidade? - com uma EM novinha em folha; com direito a injecções diárias, pés de lã com os se's, regressos semestrais para consultas de rotina e papeladas para as necessárias doses.
Mas com a sensação de que estou a fazer um caminho certo, e a EM que se adapte, que esta é a vida que eu escolhi.
Mas com a sensação de que estou a fazer um caminho certo, e a EM que se adapte, que esta é a vida que eu escolhi.
Emigrantes, oficialmente - com direito a cansar, stressar, emocionar, excitar, agitar, ansiar.
Acho que acabei de desmaiar de nervoseuforia.
3 comentários:
Boa sorte!!
E que venha muito cansaço, stress, emocões, excercício, agitação, ansias de mais!
Boa sorte, filha
Um beijinho, força, para tudo o que vier!
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